sábado, maio 27, 2006

Onde está o pão?


(Museu do Pão - Seia)

sexta-feira, maio 19, 2006

Lisboa menina e moça...

(Numa das colinas de Lisboa)


"No castelo ponho o cotovelo
Em Alfama descanso o olhar
E assim desfaço o novelo
De azul e mar

À Ribeira encosto a cabeça
A almofada da cama do Tejo
Com lençóis bordados à pressa
Na cambraia de um beijo.

Lisboa menina e moça, menina
Da luz que os meus olhos vêem, tão pura
Teus seios são as colinas, varina
Pregão que me traz à porta ternura

Cidade a ponto luz bordada
Toalha à beira mar estendida
Lisboa menina e moça e amada
Cidade amor da minha vida

No Terreiro eu passo por ti
Mas na Graça eu vejo-te nua
Quando um pombo te olha sorri
És mulher da rua.

E no bairro mais alto do sonho
Ponho o fado que sei inventar
A aguardente de vinho e medronho
Que me faz cantar.

Lisboa do amor deitada
Cidade por minhas mãos despida
Lisboa menina e moça e amada
Cidade mulher da minha vida."

Ary dos Santos

domingo, maio 14, 2006

Todos diferentes, todos iguais...

" Encontrei uma preta
que estava a chorar

pedi-lhe uma lágrima

para a analisar


Recolhi a lágrima

com todo o cuidado

num tubo de ensaio

bem esterilizado


Olhei-a de um lado

do outro e de frente

tinha um ar de gota

muito transparente


Mandei vir os ácidos

as bases e os sais

as drogas usadas

em casos que tais


Ensaiei a frio

experimentei ao lume

de todas as vezes

deu-me o qu'é costume


Nem sinais de negro

nem vestígios de ódio

água (quase tudo)

e cloreto de sódio"

António de Gedeão

(Torres Vedras)

quarta-feira, maio 10, 2006

A vida continua...

(Algarve)

"... quem passa na rua
Nem sequer sonha que do outro lado
A paisagem da vida continua."

Miguel Torga

sábado, maio 06, 2006

Nos olhos de minha Mãe...

(Parque dos Poetas - Oeiras)

"Quando eu nasci,
Ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
Nem o Sol escureceu,
Nem houve Estrelas a mais...
Somente,
Esquecida das dores,
A minha MÃE sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
Não houve nada de novo
Senão eu.
As nuvens não se espantaram,
Não enlouqueceu ninguém...

P'ra que o dia fosse enorme,
Bastava
Toda a ternura que olhava
Nos olhos de minha MÃE..."

Sebastião da Gama

quinta-feira, maio 04, 2006

Ouçam as árvores...


"Aquela senhora tem um piano
Que é agradável mas não é o correr dos rios
Nem o murmúrio que as árvores fazem...

Para que é preciso ter um piano?
O melhor é ter ouvidos
E amar a Natureza."

O Guardador de Rebanhos
Alberto Caeiro

segunda-feira, maio 01, 2006

E por vezes...

(Praia da Formosa - Sta Cruz, Torres Vedras)

"E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
..."

David Mourão-Ferreira